A outra face.

Eu sou o narrador da história,e posso dizer obrigatóriamente toda a minha opinião a respeito das cenas e ações que precisar narrar por aqui.
Eles sentavam-se com as cadeiras próximas de mais.Sabe quando o local em que você apoia a coluna até se toca com a de outra pessoa?Exatamente assim.Mãos entrelaçadas.Podia-se perceber a diferença de toque dos dois: ela era delicidade e de unhas compridas,ele era todo sem jeito e com as unhas por fazer.
Devagar apoiaram-se um no outro,encostando a cabeça de um com o ombro do outro.
Do meu modo de ver,já não era mais possível identificar um ou outro,viraram um só.
Poderia dizer que isso tudo era meloso demais,uma intensa falta do que fazer ou algo do tipo,mas eu não quero ser julgado como invejoso.Só por quê nunca vivi algo parecido vou colocar defeito nos amores alheios?Já passei dessa fase.Há muito tempo...
Muito carinho,amor e respeito.Essa era a visão dela,que infelizmente não narrava a história.
Depois da cena perfeita até de mais,ela o deixou,em uma lanchonete de qualidade duvidosa e foi para casa,com a certeza de finalmente ter o seu amor para sempre,aquele perfeito dos cinemas.
Mera idiotisse.
Após sua saída triunfal,ele deixou o local sem nem ao menos ter colocado a mão em um lanche.Uma fachada para a burrice.
Seguiu íntegro e entrou em uma esquina.Beijou-a com direito a todo resto que sua real guria jamais teria permitido.
Uma traição,completa.
Como mero narrador não tenho o poder de ir correndo contar sobre todo aquele absurdo negro que acabara de visualizar,mas senti meu coração batendo mais forte.
Estou aqui,com o coração na mão ao ouvir uma ligação dele para a real coitada da história:
-Saudades já amor?Eu também!Não se preocupe,eu te amo muito mais.
Palavras ao vento são pronunciadas até com gosto,o problema é colocá-las em prática.
Narro já com lágrimas nos olhos,que transbordam pelo meu rosto, feito uma taça recém carregada, de vinho.